Cheguei aqui no último post pra falar de um biquíni e mil inseguranças depois de quase dois anos sem aparecer e depois saí andando como quem não quer nada, sem nem dizer um até mais, um com licença, um perdão por tudo. Eu não gosto desses “posts explicativos” tão comuns prestando satisfações depois de muito tempo sem publicar nada porque isso remete a obrigação e compromisso (efeito sonoro de gritos de horror ao fundo) e deve ser a ideia a que mais me oponho no blog desde que ele nasceu. Sempre foi essencial que este espaço fosse conforto e aconchego pra mim, como uma poltrona convidativa perto do fogão a lenha, uma coberta, uma xícara de chá esquentando em cima da chapa. Se o blog tivesse uma bíblia esse seria um dos dez mandamentos. Deus me livre deixar de ser divertido, virar obrigação, Deus me livre sentir que preciso dar satisfações.
Mas este texto é menos uma prestação de contas e mais uma conversa que eu queria ter há um tempinho. Pra quando chegar uma visita e eu não tiver dado sinal de vida há eras a pessoa leia e saiba que não abandonei o blog, em algum momento apareço de novo e tô sempre penadinho flutuando por aqui, dando reload na página só pra ficar admirando meu bloguinho cuticuti, os textos que já publiquei, os links na lateral, esse layout basicão que montei a trancos e barrancos há anos e que ainda me deixa com um quentinho no coração, porque amo esse tom azul-verde-acinzentado. Porque gosto mesmo de ter um blog, um cantinho, blogar ainda é uma das minhas coisas favoritas.
Eu queria poder passar boa parte dos meus dias por aqui, escrevendo e pensando sobre tudo que me faz sentir e acompanhando tanta gente legal, porque escrever é dessas coisas que devo fazer pra ficar em paz de vez em quando, prolongar sentenças ou colocar pontos finais. Sabe aquilo, propósitos de vida com os quais a gente nasce ou nos quais esbarramos (/tropeçamos) no caminho, ou chamados, ou sei lá como se queira nomear? É meio assim, e meio pretensioso pra quem não sentava a bunda na cadeira pra produzir um texto há mais de ano, eu sei, mas se eu pudesse faria isso o dia todo. Escreveria sobre o vento e sobre as folhas e sobre o tempo que embala os dois e sobre como isso tudo é feliz e também tão triste, triste e triste, e escreveria sobre todo o resto também, todos os dias, o dia todo.
Preciso de um lugar que sirva de abrigo pro acervo pessoal do que vivi/pensei/senti, meu cantinho.
E não é só escrever, gosto de estar aqui especificamente, na bLoGoSfErA. Sem querer ser purista ou pedante, mas criar TEXTOS(!!!) na era tiktok, escrever PALAVRAS que você tem que DIGITAR uma atrás da outra até formar um BLOCO de VÁRIAS PALAVRAS que você JUNTOU UMA POR UMA, é como preservar uma arte ancestral, não importa quão banal seja o tema, todo mundo fala sobre isso o tempo todo etc e é verdade. E estar aqui no meio de pessoas que ainda se prestam e se divertem espanando esse móvel antigo da internet chamado caixa de texto me deixa com um sentimento de pertencimento e camaradagem que afaga o cuoure. <3 Espalhados por tudo que é canto deste país continental, sinto que nos blogs somos vizinhos de cerca, desses pra quem pedir uma xícara de açúcar quando o de casa acaba no meio da receita de bolo. Talvez isso aqui seja a vila do Chaves.
Adoro visitar amiguinhos blogueiros, ver o layout que a pessoa escolheu, os posts sobre comédias românticas, rolês pobres, livros ruins ou colegas de trabalho insuportáveis, descobrir novos blogs no blogroll, escrever eu mesma sobre meus colegas de trabalho insuportáveis e todo o resto, enfim, fazer parte dessa linda rede de amor e ódio. =3 *-* ^-^ <3
Mas por que então eu sumi por tanto tempo, né?
E por medo de não encontrar o texto e perceber que nem sei fazer isso direito eu me refugio no conforto da incógnita, do não saber, do talvez eu conseguisse escrever o que quero dizer hoje mas talvez não então é melhor nem tentar pra não descobrir. E aí não escrevo nada, e vou adiando, e os rascunhos mofam e dois anos se passam sem que eu digite uma palavra, mesmo pensando neste cantinho todos os dias.
É claro que estar exausta e sobrecarregada como todo mundo o tempo todo agrava esse desânimo. Perdi a conta das vezes em que pensei esse fim de semana vou escrever algo no bloguinho, porque quero e tô com saudade, mas quando o fim de semana chega e as quarenta malditas horas de trabalho já acabaram comigo eu vejo que só restou a vontade de descansar encarando o teto, eu mereço, eu preciso, o resto fica pra próxima... mas meio que não fica.
Outras pessoas já compararam a escrita ao parto, e pra mim a metáfora é perfeita, queria ter pensado nela antes, é assim que me sinto. Quando um texto nasce, tá pronto, eu o amo como um filho, mas antes disso teve perrengue; foi um pânico quando a bolsa estourou, a corrida até o hospital foi agoniante e as contrações eram terríveis. O parto é doloroso, mas é lindo quando o texto nasce, bem-vindo ao mundo, filhote (?????w????ww?????).
Nutro carinho por alguns posts daqui e os releio de vez em quando, congratulando a mim mesma de um jeito autoindulgente não porque ficaram ótimos, mas porque cheguei no fim, escalei a montanha, desemaranhei o novelo, consegui dizer exatamente o que eu queria dizer ou quase, ufa, deu tudo certo, ele tá pronto, agora já dá pra respirar aliviada porque consegui colocar pra fora. Às vezes abro o blog só pra ver eles publicados lindinhos ali na tela. Talvez seja vaidade; talvez eu só goste mesmo disso aqui. <3
Claro que essa resistência e o intervalo entre as publicações seriam menores se eu conseguisse levar os posts com mais leveza bem no estilo diarinho a que sempre me propus, mas tenho essa dificuldade, todo texto vira Um Grande Texto (na minha cabeça), em extensão e gravidade, não consigo só sentar e despejar as palavras sem pensar muito e publicar antes de reler mil vezes, revisar, encontrar sinônimos, termos mais apropriados. Quero ter o desprendimento de vir mais vezes pra postar qualquer bobalegrice, fazer trends (ainda usamos essa palavra?), falar como foi meu dia e o que estou pensando sem coesão alguma, como numa conversa com amigas numa mesinha de padaria ou comigo mesma no travesseiro antes de dormir. E quero ter ânimo pra escrever os ''outros textos'' também, escrever sobre o vento e sobre as folhas e sobre o tempo que embala os dois e sobre como isso tudo é feliz e também tão triste, triste e triste, e escrever sobre todo o resto também, todos os dias, o dia todo.
É por isso que fico anos sem dar as caras; partos são dolorosos, mas conversas de padaria não precisam ser. ;)
Mas eu tô aqui, é isso que quero dizer hoje. Mesmo se estiver há cinco anos sem postar, de um jeito ou de outro tô por aqui. Já escrevi antes, ''Este blog existe porque preciso de um cantinho assim pra mim. Apareço aqui muito menos do que gostaria, às vezes sumo por meses ou até anos, mas nunca vou embora de fato. Se um dia eu for, me despeço antes, porque eu não ia poupar o drama e perder a pauta.''.
Fico mexida quando clico num link de blog que eu costumava visitar e aparece aquela página dizendo que o site não tá mais lá, ou ocultado, ou substituído por um site bizarro de propaganda em uma língua com caracteres que desconheço?, porque é mais um cantinho que se vai, mais uma pessoa que se vai. Fico pensando pra onde, se tá bem, se vai voltar. E aí lembro que tô há tanto tempo sem escrever que quem entrar no blog agora vai achar que ele também tá abandonado juntando poeira e só esqueci de desativar a página, mas não, não pretendo que isso aconteça com o Krahelake, essa bagaça não vai sumir daqui tão cedo. =D
Escrevi um texto pro Blogueiros Raiz há pouco tempo, e se eu posso e se não for vergonhoso demais tarde demais kk ficar parafraseando a mim mesma sem escrúpulos, também vou deixar um pedaço dele aqui, outro resumo modesto sobre permanecer:
''[...] sei que vou seguir blogando porque preciso de um cantinho assim, algo que me proporcione muito mais liberdade criativa do que instagram, twitter e, Deus me livre e guarde, Facebook são capazes.Eu preciso de um espaço pra escrever textos enormes sobre tudo e nada, qualquer coisa; pra modificar o layout à exaustão até deixar ele a minha cara e não uma página padronizada igual todas as outras da rede; um lugar que não apareça o tempo todo no feed de alguém e não me deixe desconfortável pensando que estou incomodando, porque acho que quem aparece no blog é menos por escorregão e mais de caso pensado disposto a encarar as consequências - muita vergonha alheia. E se eu preciso disso, deve ter muito mais gente como eu que precisa também, né? Quer dizer, não sou tão especial assim, rs.Tem muitas formas de publicar textos e outros posts mega dinâmicos e cheios de personalidade na internet, é claro, e faço uso de várias delas. Mas blogar ainda é uma das minhas coisas favoritas.''
Não sei quando apareço novamente, se daqui a uma semana, um mês ou dois anos (espero que não), e nem se vou conseguir seguir qualquer uma das resoluções informais desse texto. Mas sei que apareço, quando a vida acalmar (rindo igual o Coringa) ou eu relaxar e escrever um post bobinho e despretensioso e amorzire e mais curtinho (posso ouvir um amém da igreja?) sem acabar transformando ele numa grande catarse em que sinto necessidade de esmiuçar todos os conflitos atuais da minha vida sem deixar passar nada, porque peloamordedeus, eu só queria fazer um meme e sentei no divã de novo. Ou talvez reapareça mesmo pra mais uma dessas grandes lavagens de roupa suja e terapia de sarjeta, se eu quiser. Porque se eu não puder fazer essas coisas, qualquer coisa, das totalmente desconexas às minimamente calculadas, aqui no meu blogspot.com de nosso senhor Jesus, onde mais faria, né? É pra isso que tenho o blog, afinal, sempre foi: pra que ele seja o que eu quiser. Pra que seja meu cantinho.
Eu apareço e não volto porque, me repito, dificilmente vou embora daqui de verdade, não num futuro próximo, e por enquanto nem poderia; a vida é um caos e eu sou meio dramática, tenho poucos amigos, sou pão dura e retraída demais pra ir pra terapia e gosto mesmo de escrever, então o jeito é ter blog diarinho.